UMA ESCOLHA A SE FAZER
Vivemos tempos acelerados onde a tecnologia, a mídia e o sistema impuseram um grande fardo sobre os homens. O homem do século XXI não tem tempo para nada – isso é o que dizemos frequentemente – mas o que está por trás disso é algo muito mais profundo. Entenderemos nossos tempos observando um episódio narrado em Lc 10:38-42, onde poderemos ver duas atitudes muito comuns em nosso dia a dia. Estudando este texto percebo que ele é profético, nos mostrando o comportamento do homem diante das preocupações demasiadas com as coisas desta vida. Vivemos este tempo, onde o homem acelerou tanto suas atividades ao ponto de perder a sensibilidade das coisas que realmente são importantes.
1. A Oportunidade Desperdiçada versus A Oportunidade Aproveitada
Nos v.38 ao v.42 de Lucas 10 encontramos uma passagem muito rica e que pode nos ensinar muito neste tempo. Jesus foi recebido por Marta em sua casa (v.38, 39). Marta tinha uma irmã chamada Maria, e nesta reunião tão especial – pois creio que para essas duas mulheres a visita de Jesus em sua casa era algo maravilhoso, uma oportunidade valiosíssima – vemos que Maria sentou-se aos pés de Jesus para ouvir suas palavras (v.39b). Maria não queria perder um só minuto da presença de Jesus, porém, Marta corria de um lado para o outro, preocupada com o serviço da casa (v.40a). Vendo, pois, sua irmã Maria sentada aos pés de Jesus, Marta ficou incomodada e pediu a Jesus que desse uma ordem a Maria para ajudá-la no serviço da casa (v.40b). Neste cenário nos deparamos com duas escolhas: (1) dar atenção a Jesus e aproveitar a oportunidade ouvindo-O ou (2) ficar preocupado com as aparências externas na tentativa de causar boa impressão a Jesus. Certamente Marta queria oferecer uma boa recepção a Jesus, mas no texto vemos que suas preocupações eram excessivas e desnecessárias: “Respondeu-lhe o Senhor Jesus: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas” (v.41). A preocupação com a organização da casa, limpeza, etc., fez com que Marta perdesse o foco principal e acabou desperdiçando aquele momento tão valioso ao lado de Jesus.
Muitas vezes a correria do dia a dia nos faz cometer esta mesma atitude: desperdiçamos oportunidades maravilhosas para satisfazermos uma “agenda” de atividades e compromissos excessivos, mas que no fundo geram mais desgaste e não trazem nenhum benefício duradouro. Maria sabia que contemplar a presença de Jesus era algo muito mais valioso que qualquer rotina ou tarefa doméstica – a casa iria permanecer ali para ela cuidar, limpar, organizar o resto da vida, mas a presença de Jesus era temporária, pois mais à frente ele seria crucificado e voltaria ao Pai. No v.42, Jesus prossegue dizendo: “entretanto, poucas são necessárias, ou mesmo uma só; Maria, pois, escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”. Jesus não estava preocupado com uma hospedagem impecável, perfeita; Ele estava interessado em compartilhar coisas eternas e duradouras. Marta se ocupou com as coisas passageiras, enquanto Maria se interessou pelas eternas. Em 2 Co 4:18 Paulo nos orienta a não nos atentarmos nas coisas desta vida, pois elas são temporais, enquanto que as coisas de Deus são eternas. Isso não quer dizer que não devamos estudar; trabalhar; etc., mas o texto sugere que estas coisas não devem tomar a prioridade em nossas vidas, nos afastando da presença de Deus. Devemos buscar em primeiro lugar a vontade de Deus (Mt 6:33).
2. Marta e Maria representam os dois lados de nossa geração
Estudando esta passagem podemos entender que Marta e Maria simbolizam o comportamento das pessoas nos dias de hoje: muitos andam ocupados, correndo freneticamente de um lado para o outro enquanto que outros param para ouvir os ensinamentos de Jesus. De qual lado você está? Você anda acelerado como Marta ou tranquilo como Maria?
Hoje a presença de Jesus em nossa vida se dá pelo Seu Espírito que foi enviado à Sua igreja. Jesus está nos céus à destra de Deus e o Espírito Santo é quem nos guia e nos instrui – Ele é o Espírito do próprio Jesus habitando em nós. Estamos dando atenção àquilo que o Espírito nos ensina ou estamos correndo em busca de coisas passageiras?
Em nosso tempo as pessoas estão perdendo a sensibilidade das coisas de Deus; não gastam tempo orando, estudando a Bíblia, não participam das reuniões da igreja; mas elas encontram tempo para tudo. O homem deste século tem tempo para tudo, exceto para Deus. Muitas das atividades que realizamos são criadas por nós mesmos, e elas não agregam em nada, apenas ocupam mais nossa “agenda apertada” e assim, teremos mais argumentos para nos apoiarmos ao dizermos: “não temos tempo para nada”!
Analisando o comportamento das pessoas de nossos dias vemos algo em comum: elas estão seguindo os passos de Marta. Em toda rua, cada esquina, nos deparamos com obras e mais obras. Parece que todos resolveram gastar tempo e dinheiro com pedras e tijolos. Em tempos onde deveríamos refletir em relação às coisas de Deus e sobre o que acontece no mundo inteiro, cada vez mais vemos pessoas correndo de um lado para o outro, preocupado com suas casas luxuosas na tentativa de mostrar algo externo à sociedade. Nunca se empenhou tanto em construção como nesta geração. Cada um corre para a sua própria casa, esquecendo-se da casa de Deus (Ag 1:9). Não quero, porém, dar a entender que estas coisas são desnecessárias. Todos têm o sonho de adquirir uma casa própria, este é um objetivo que todo homem possui no coração. Não há nada de errado nisto, o problema está em empenhar excessivamente e supervalorizar estas coisas ao ponto de comprometer com a sua saúde espiritual, emocional e física. As pessoas não estão sabendo equilibrar o uso do tempo, do dinheiro e de sua energia física. Ao invés de correr tanto devemos tirar um tempo para respirarmos e ouvirmos a Palavra de Deus.
Nos tempos do profeta Ageu ocorreu algo semelhante. Diante das dificuldades no mundo, as pessoas abandonaram a casa do Senhor e cada um foi cuidar de suas casas. Deus então levanta o profeta Ageu para orientar o povo a retornar à reconstrução do Templo que havia sido paralisada por pelo menos 15 anos (do ano 535 ao ano 520 a.C., segundo ano do rei Dario, da Pérsia - Ed 4:24; Ag 1:1-8). A ordem de Deus era: “Subi ao monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela me deleitarei e serei glorificado, diz o Senhor” (Ag 1:8). Sabemos que Deus não está interessado que edifiquemos templos, pois Ele não habita em quatro paredes (Ver At 7:48-50), mas Ele quer que edifiquemos nossas vidas, pois é no nosso coração que Deus deseja fazer morada. Nós somos o templo do Espírito Santo. Em meio a essa busca descontrolada pelo materialismo devemos parar, refletir e edificarmos a nossa casa espiritual.
Enquanto que as Martas andam quase voando de tanta preocupação, Deus deseja que sigamos o exemplo de Maria: sentando-se aos pés de Jesus e ouvindo suas palavras. Como podemos fazer isso? Dedicando mais tempo à oração, à leitura da Bíblia, meditando e congregando com os irmãos. Devemos desacelerar nossa agenda entupida de coisas desnecessárias e retirarmos tudo aquilo que não acrescenta nenhum valor. Devemos seguir o exemplo da oração de Moisés, registrada em Sl 90:12: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio”.
Outro fato a ser notado: a quietude de Maria incomoda Marta. As Martas desta geração frequentemente irão se queixar e murmurar dizendo às Marias: “Levante-se e faça alguma coisa!”; “Você está tranquila de mais para o meu gosto, venha e me ajude nesta tarefa pra ontem!”. Isso aconteceu na passagem que estudamos: Marta se sentiu incomodada com a quietude de Maria – que estava tranquila ouvindo os ensinamentos do Mestre – enquanto ela queria “desembolar” logo as tarefas da casa. Maria, pois, escolheu a melhor parte! Quando lidarmos com estes questionamentos e queixas, devemos manter nossa posição e estarmos convictos que escolhemos a melhor parte. Na passagem estudada não foi registrado que Maria discutiu com Marta, mas permaneceu ali quieta aos pés de Jesus. Assim devemos proceder. O próprio Jesus aprovou a atitude de Maria, que abriu mão das preocupações da casa para ouvi-Lo, reprovando a atitude desnecessária de Marta.
Quantas “Martas” temos aqui hoje? E onde estão as “Marias”? Você anda agitado pelas vaidades deste mundo ou anda tranquilo buscando ouvir a voz do Mestre? Quais são as atividades desnecessárias que você faz hoje e que podem ser substituídas por aquelas que realmente têm valor? Até que ponto vale à pena trocar a presença de Jesus pelos cuidados deste mundo? Pense e reflita! Todos nós temos muito que mudar. Devemos redescobrir o valor das pequenas coisas, e, que frequentemente não nos atentamos pela correria do relógio. Na verdade, o tempo é suficiente para vivermos de maneira equilibrada, mas somos mestres em reinventar maneiras de desperdiçá-lo.
3. Aplicação Prática
Imaginemos agora a seguinte situação, representada em um pequeno diálogo:
“Estamos diante de duas escolhas, Jesus está sentado na sala, o que faremos?” – Pergunta Marta à Maria;
“Quais são as opções?” – Replica Maria.
“Sentar juntamente com Jesus na sala e ouvirmos teus ensinamentos ou acelerarmos os trabalhos da casa para causarmos uma boa impressão” – Responde Marta.
“Bom, Marta! A casa nós organizamos outra hora, não precisamos preocupar tanto com comidas sofisticadas, não há necessidade de correr com essas coisas, vamos aproveitar este momento para aprendermos coisas eternas” – Diz Maria empolgada.
“Como sempre tudo sobra para eu fazer nesta casa”! – Murmura Marta.
Este diálogo é hipotético, mas pode simbolizar nossas atitudes e reações diante das escolhas que devemos fazer diariamente. Qual lado nós vamos escolher? “a vida acelerada de Marta?” ou “a vida equilibrada de Maria?”. Antes de responder estas perguntas lembre-se de algo muito importante que Jesus ensinou no seu pequeno diálogo com Marta:
“entretanto, poucas [coisas] são necessárias, ou mesmo uma só; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”. Lc 10:42
Maria escolheu a melhor parte e certamente ela nunca se arrependeu.
E qual é a melhor parte? [Você pode perguntar].
Simples: sentando-se aos pés de Jesus, ouvindo a sua palavra.
Amém!!!
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